Esporte

Morre aos 80 Wilson Fittipaldi, ícone do automobilismo do Brasil

O nome Fittipaldi é sinônimo de automobilismo para os brasileiros. Cada um dos membros da família que se envolveu com o esporte a motor deu uma contribuição para construir essa marca.

Wilson Fittipaldi morreu aos 80 anos. Foto: Reprodução/Instagram

A de Wilson Fittipaldi Junior, o Wilsinho, certamente foi materializar o sonho de fundar a primeira e até hoje única equipe do país que já esteve no grid da F1.

Foi um sonho que ele dividiu com o irmão mais novo, Emerson, responsável pelos dois primeiros títulos do Brasil na categoria (1972 e 1974). Juntos, projetaram e construíram os carros da Copersucar-Fittipaldi, que esteve presente em oito temporadas do Mundial.

Foi, também, o resultado da paixão despertada pelo pai deles, o Barão Wilson Fittipaldi (1920-2013), um dos grandes responsáveis pelos primeiros passos do esporte a motor no país, apresentador de programas temáticos na TV, o primeiro narrador da modalidade no rádio brasileiro e o fundador da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo).

Wilsinho morreu nesta sexta-feira (23), aos 80 anos. Ele sofria de mal de Parkinson e estava internado desde o dia 25 de dezembro. Na data, além de celebrar o Natal, ele comemorava seu aniversário octogenário. A informação foi confirmada à Folha por uma pessoa próxima à família.

Em nota, a CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) lamentou a morte e destacou a importância de Wilsinho. “A CBA rende homenagens não apenas ao ex-piloto Wilson Fittipaldi Jr., mas a este legítimo patrimônio do Automobilismo Brasileiro. 

Reuniu talento, visão de futuro e ousadia para levar o nome do Brasil a um patamar jamais imaginado. Num projeto que, certamente, estava à frente do seu tempo, capitaneou o surgimento da primeira equipe brasileira de Fórmula 1.”

Segundo familiares que estavam com ele, o piloto engasgou com um pedaço de comida. Após passar um período longo sem oxigênio, teve uma parada cardíaca. Ele foi reanimado antes de ser levado ao hospital.

Wilson era casado com Rita e pai do também piloto Christian Fittipaldi, 52, o terceiro da família que pilotou um carro de F1, em três temporadas, de 1992 a 1994. Pai e filho chegaram a dividir o mesmo carro, nas Mil Milhas Brasileiras, em 1994, considerada por ele a vitória mais especial de sua vida.

Já a corrida pela qual ele será lembrado para sempre ocorreu duas décadas antes, em janeiro de 1975, quando ele alinhou seu Copersucar-Fittipaldi na 23ª e última posição do grid no Autódromo Municipal de Buenos Aires, antes da largada do GP da Argentina, na abertura da temporada daquele ano.

Qualquer que fosse o resultado final dele (que não completou a prova), a simples presença naquela corrida marcava a estreia da equipe brasileira na categoria, com um carro que o próprio Wilson ajudou a projetar.

Era o ápice de sua trajetória no automobilismo, que começou nos anos 60, ao lado de Emerson. Ao longo de sua vida, ele guiou os mais diferentes automóveis, incluindo os modelos de turismo e os monopostos, especialmente os da Fórmula Ve e da F1.

Em 1972, ele chegou à principal categoria do automobilismo mundial, na qual ficou por duas temporadas. Em 35 corridas, seu melhor resultado foi um quinto lugar na Alemanha, em 1973. Ele também chegou em terceiro no GP Brasil de 1972.

Sem muitos resultados expressivos, foi como dono de equipe que ele deixaria sua marca.

A escuderia da família esteve presente no grid de 1975 a 1982, período em que realizou 104 provas, sendo a primeira com Wilson, na Argentina, e a última na Itália, com Chico Serra.

O resultado mais festejado foi alcançado em 1978, quando Emerson subiu no pódio do GP Brasil, com um segundo lugar na corrida realizada em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Wilson gostava de recordar com orgulho desse período, sobretudo porque acreditava que, atualmente, é quase impossível a F1 ter novamente um time brasileiro devido aos padrões financeiros da categoria.

“Acho que hoje em dia não existe nenhuma chance, devido ao custo da F1. Naquela época com 3 milhões de dólares se montava uma boa equipe. Hoje a coisa foi para 450 ou 500 milhões de dólares, por temporada. Simplesmente impossível de acontecer”, disse ele em recente entrevista à revista Racing.

Passaram pela equipe grandes nomes como o próprio Wilsinho, Emerson Fittipaldi, Ingo Hoffmann, Alex Dias Ribeiro, Chico Serra, Keke Rosber.

Apesar da importância histórica para o automobilismo brasileiro, a equipe também conviveu com críticas na época, sobretudo na mídia não especializada em corridas, pelas dificuldades de competir com carros de escuderias tradicionais, como Ferrari e McLaren.

Wilsinho ficou especialmente chateado com apelidos que deram ao time na época, como “tartaruga” e “açucareiro”.

“Nunca entendemos porque isso, se estávamos indo tão bem”, comentou Wilsinho também à Racing.

Foi só recentemente, no aniversário de 40 anos da empreitada brasileira na F1, que os resultados da equipe fundada pelos irmãos Fittipaldi passaram a fazer as pazes com a história, sendo exaltados pelos fãs de automobilismo no país.

Felizmente, a tempo do próprio Wilson receber o reconhecimento que merecia.

LUCIANO TRINDADE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Redação

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