A maior seca já registrada no Brasil afeta 1.400 cidades em condições extremas ou severas. Esse período de estiagem começou mais cedo, exemplificando os impactos das mudanças climáticas, causadas por diversos fatores, com destaque para o aquecimento global.
Em 2024, o mundo registrou o agosto mais quente da história, sendo que, nos últimos 14 meses, 13 tiveram uma temperatura média 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais. O pesquisador Giovanni Dolif, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), afirma que a tendência de aumento das temperaturas parece ser permanente.
“E mais grave do que isso: nós brasileiros estamos sentindo um aquecimento acima dessa média global. Nesse inverno, o trimestre junho, julho e agosto teve em São Paulo, por exemplo, dois graus acima da média”, afirmou.
“Nós atingimos a temperatura mais alta que o planeta já enfrentou desde o último período interglacial, 120 mil anos atrás”, destacou o climatologista Carlos Nobre, um dos cientistas que alertaram sobre as consequências das mudanças climáticas.
“Isso faz todos os eventos extremos explodirem. As ondas de calor, as secas, as chuvas superintensivas e, até mesmo globalmente, recordes de incêndios florestais”, diz Nobre.
O clima mais seco favorece a propagação de incêndios, colocando em risco áreas como o Pantanal, uma das principais representações da biodiversidade brasileira. A cientista Luciana Gatti destaca que os rios que abastecem o Pantanal têm suas nascentes no Cerrado, uma região que já teve mais de 60% de sua vegetação original desmatada.
CRIME AMBIENTAL
A Polícia Federal já identificou que, com raras exceções, os incêndios foram provocados por ações humanas. Em Novo Progresso (PA), onde ocorreu o chamado Dia do Fogo em 2019, invasores e grileiros voltaram a se organizar para incendiar a floresta, chegando a divulgar suas intenções em um jornal local.
O governo pretende endurecer as punições para os responsáveis por incêndios criminosos, propondo o aumento da pena – atualmente de dois a sete anos de prisão –, o confisco das propriedades, como no caso de trabalho análogo à escravidão, e a restrição ao acesso a crédito.
MINISTRA FALA SOBRE TEMA
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirma que, com a diminuição do desmatamento, houve uma mudança na dinâmica dos crimes ambientais na Amazônia, pois as pessoas perceberam que o fogo pode se alastrar pela floresta mesmo com as árvores ainda de pé.
“Isso significa que a floresta, em função da mudança do clima, perdeu umidade e agora eles estão fazendo essa aliança perversa. Bota fogo, depois derruba e tenta se apropriar dessas áreas por processos de regularização fundiária”.
“O fogo está sendo o novo desmatamento. Então, tem que cercear qualquer forma de regularização que esteja associada à apropriação criminosa dessas áreas, até porque é terra pública”.
Fonte: Meio Norte