Aprendi, a duras penas, que ninguém nos pertence. Ou as pessoas morrem, ou nos deixam (o que também é um tipo de morte). E não há nada que possamos fazer quando isso acontece, senão sobreviver ao luto.
Em ambas as situações, morremos. No segundo caso, a nós nos parece que um tipo pior de morte – ainda que saibamos que haverá vida um dia.
E quando mortos estamos, a verdade é que não se importam. No máximo um lamento, uma lembrança, uma postagem no Instagram, um torrão de barro sobre o caixão.
Por outro lado, não é motivo de angústia – mas de conforto – saber que a continuidade ou o fim de alguém persiste sem que precisemos consentir.
De igual maneira, nosso tormento não cativa aos demais nem dói além de nós mesmos.
Sendo assim, vivendo ou morrendo – não nos enganemos! –, a jornada é individual e intransferível. Só resta aceitar.
Flávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é policial penal, escritor, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa.
Fonte: JTNEWS