
O boletim Além da Floresta: conflitos socioambientais e deserto de informações, lançado nesta segunda-feira pela Rede de Observatórios da Segurança, revela dados preocupantes sobre os crimes ambientais no Piauí entre 2023 e 2024. O estado registrou 1.903 crimes ambientais, sendo quase 70% dos casos relacionados à fauna.
Os demais registros envolvem infrações contra a flora (627 casos), crimes de poluição (204), exploração mineral (17) e outros delitos ambientais (36). Apesar de uma leve queda de 0,52% nos registros entre um ano e outro, o volume total de crimes continua elevado e revela desafios persistentes na proteção dos ecossistemas e no combate à criminalidade ambiental no estado.
No mesmo período, o Piauí também apresentou 75 conflitos socioambientais mapeados, segundo a Rede, o que representa 15,20% do total de casos analisados nos nove estados monitorados, que incluem também Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.
O estado se destacou ainda com o maior número de ocorrências de desmatamento, somando 41 casos, o que equivale a 42,27% das situações dessa natureza registradas nos estados analisados.
O relatório, baseado em dados oficiais obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) e em levantamento de ocorrências na imprensa, chama atenção para a ausência de padronização na coleta e na divulgação dos dados pelos estados, o que dificulta a formulação de políticas públicas eficazes.
Crimes contra indígenas
Teresina foi o município com maior concentração de crimes contra indígenas, representando mais de 50% das ocorrências registradas contra essa população no estado. A maioria dos casos envolveu ameaças, que corresponderam a 14,49% dos crimes ambientais cometidos contra indígenas.
Deserto de informações
A Rede também aponta que, apesar da gravidade dos casos, há um apagamento midiático sobre os conflitos socioambientais. Em todo o país, apenas 1,20% das ocorrências registradas pelas secretarias foram abordadas pela imprensa, reflexo do que o relatório chama de “deserto de informações”. No Piauí, o padrão se repete: a cobertura jornalística é limitada e concentrada nos grandes centros, enquanto áreas rurais e comunidades tradicionais permanecem invisibilizadas.
Outro ponto destacado é a ausência de dados que indiquem os impactos diretos sobre quilombolas, ribeirinhos e outros povos tradicionais. O boletim recomenda que os registros de crimes ambientais passem a incluir se as vítimas pertencem a essas comunidades, o que permitiria análises mais precisas sobre vulnerabilidades e garantiria maior proteção institucional.
Com a proximidade da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), prevista para novembro no Pará, o relatório reforça a urgência de se integrar informações ambientais e sociais em políticas de Estado. As recomendações da Rede incluem a criação de órgãos específicos para lidar com crimes contra populações tradicionais e a ampliação da cobertura jornalística para essas pautas.
Fonte: Portal O Dia