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Júri Histórico leva Fidié ao banco dos réus no Piauí; conheça militar que liderou tropas portuguesas na Batalha do Jenipapo

Reportagem Sertão Atual

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juri-historico

Após 201 anos da Batalha do Jenipapo, um Júri Histórico levou ao banco dos réus João José da Cunha Fidié, militar responsável por liderar tropas portuguesas que, em um embate sangrento, vitimaram milhares de camponeses do Piauí, às margens do Rio Jenipapo, em 1823. O julgamento ocorreu na manhã deste sábado (30) na Câmara Municipal de Campo Maior, município palco da batalha.

O evento recebeu o apoio da Academia Campomaiorense de Ciências, Artes e Letras (Acale), que apontou o julgamento simbólico de Fidié como uma ação importante para o conhecimento histórico da Batalha do Jenipapo, através do Tribunal Popular do Júri.

O que é um Júri Histórico? Trata-se de uma encenação jurídica interdisciplinar, que envolve principalmente disciplinas da área do direito e história. O advogado criminalista e professor de direito Hartônio Bandeira destacou que o evento foi avaliado positivamente para a disciplina do direito penal, cultura e história.

O Júri Histórico contou com a participação de Williams Silva de Paiva, promotor de Justiça no Maranhão e natural de Campo Maior; de Zilneia Gomes Barbosa da Rocha, juíza aposentada que exerceu a magistratura no município; e do advogado e professor Hartônio Bandeira.

Já o Conselho de Sentença do julgamento foi formado por professores do campus Heróis do Jenipapo da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) e de membros da Acale. Atores também marcaram presença nos papéis de réu e testemunhas.

Quem foi Fidié?

João José da Cunha Fidié foi o major que liderou as tropas a favor da coroa portuguesa contra os camponeses piauienses na Batalha do Jenipapo, iniciada no dia 13 de março de 1823, às margens do rio de mesmo nome no município de Campo Maior, que ainda não existia no período.

A batalha violenta começou a ser idealizada no dia 8 de agosto de 1822, um mês antes do Grito do Ipiranga. Na data, Fidié chegava a Oeiras, capital da província até então, nomeado ao cargo de governador das armas pelo rei Dom João VI. Historiadores apontam que ele veio ao sertão piauiense com o intuito de impedir a emancipação do Brasil.

Após ocupações por parte do exército independentista, comandado pelo capitão Luís Rodrigues Chaves, Fidié tomou uma postura mais dura e retomou o poder em Oeiras, intensificando a tensão entre os dois lados.

Apesar da junção entre os estados, apenas 500 homens faziam parte da tropa a favor da independência. Com a solicitação de voluntários, cerca de 1,5 mil civis se apresentaram. Sem experiência militar, muitos eram vaqueiros, roceiros, escravizados, libertos e indígenas, armados somente com machados, foices, facões e enxadas.

Do lado português, cerca de 1,6 mil soldados profissionais, com treinamento adequado para grandes batalhas foram solicitados, trazendo ainda 11 canhões potentes que poderiam valer por mais de dois combatentes.

No dia 13 de março, a batalha foi iniciada com as tropas portuguesas chegando ao rio, sendo atacadas pelos brasileiros. O massacre teve seu começo em uma tentativa desesperada de Chaves, que tentou conter a invasão dos soldados de Fidié. O comandante, sem alternativas, exigiu que os soldados da independência atacassem os portugueses por todos os lados, como uma forma de batalha suicida.

A batalha foi vencida pelos portugueses e deixou vários independentes mortos. Por isso, várias cruzes foram cravadas no chão em homenagem aos que deram o sangue para tornar o Piauí independente, pois muitos corpos ficaram espalhados pelo campo de batalha.

Apesar de Fidié vencer a batalha, ele não conseguiu retornar a Oeiras e ainda perdeu parte de seus suprimentos de guerra. O comandante das forças portuguesas no Piauí foi então para Caxias, no Maranhão, onde foi sitiado e e acabou por se render. Fidié foi mandado para São Luís, de onde partiu para Lisboa. Desde então, oficialmente, o Piauí se tornou independente de Portugal.

Encenações, exposição, quadrinho e musical

A Batalha do Jenipapo, historicamente reconhecida por ser o único conflito armado na busca pela Independência do Brasil, é lembrada ano após ano no estado, através de encenações, exposições, musicais e até uma história em quadrinhos.

Em 2015, o Arquivo Público do Piauí abriu uma exposição sobre a Batalha do Jenipapo com documentos históricos e ilustrações que contam o que aconteceu no histórico confronto protagonizado nas margens do Rio Jenipapo, no município de Campo Maior.

Segundo a coordenadora do Arquivo Público, Rosângela Carvalho, o tema escolhido teve o objetivo de valorizar a história.

“Essa batalha não foi bem valorizada e reconhecida pelos historiadores e agora está sendo uma luta constante de estudiosos e alguns políticos para resgatar esse valor histórico que a Batalha do Jenipapo teve para a independência do Brasil”, falou.

Ainda conforme ela, a exposição teve documentos originais da época e muitos manuscritos sobre a movimentação política do período.

Anualmente, o Governo do Piauí realiza uma programação de aniversário da Batalha do Jenipapo na cidade de Campo Maior, que conta com uma encenação retratando a batalha sangrenta. Neste ano de 2024, no 201° aniversário, cerca de 68 atores e atrizes foram selecionados para a apresentação.

No aniversário de 199 anos da batalha, em 2022, um quadrinista nascido em Piripiri resolveu escrever a história da batalha em forma de quadrinhos valorizando os heróis, em sua maioria trabalhadores do campo, que lutaram nessa batalha. O livro intitulado Foices & Facões é de autoria de Bernardo Aurélio e seu irmão Caio Oliveira.

“Eu me formei em licenciatura e a primeira faísca desse livro nasceu quando eu estava estudando a batalha durante a minha graduação. E existia também uma peça que acontecia todo ano em Campo Maior, muito valorizada. Então me veio um estalo: poxa, eu podia escrever essa história. Na época em que comecei a escrever a bandeira do Piauí ainda não tinha data, então eu vi acontecer”, contou Bernardo.

Em 2016, o espetáculo que retrata a Batalha do Jenipapo virou um musical, sob a direção de Franklin Pires e texto de Bernardo Aurélio. Cerca de 100 atores, com participação do ator Carlos Casagrande, participaram da montagem.

Pouco reconhecimento

Em publicação no Instagram, Laurentino Gomes, o primeiro historiador a retratar a Batalha do Jenipapo em um livro didático de história, relembrou a data, destacando ainda que o momento histórico é pouco reconhecido.

“Infelizmente ignorado por livros de didáticos e de história, esse episódio foi importante para a Independência do Brasil. Eu faço hoje esta homenagem com especial carinho porque, nascido no Paraná, sou também cidadão honorário do Estado do Piauí”, escreveu o historiador.

Fonte: G1 PI

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