Quatrocentos reais por mês. Esse valor, correspondente a uma bolsa de estudos, foi decisivo para que Vitaliano Amaral não desistisse do curso de graduação em matemática iniciado seis meses antes. Sem dinheiro para se manter em Teresina, onde estudava no campus da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Vitaliano estava decidido a abandonar as aulas e voltar para sua cidade de origem, Cocal dos Alves, a 280 km ao norte da capital do Piauí.
A situação mudou quando Vitalino passou a ter o direito a uma bolsa, benefício concedido por ter sido medalhista da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), um ano antes, durante o terceiro ano do ensino médio, em Cocal dos Alves. “Minha família era pobre e não tinha como me sustentar em Teresina. Minhas economias já estavam acabando”, lembra Vitaliano, hoje professor-doutor da UFPI.
As bolsas de estudos para graduação são oferecidas para alunos que tenham sido medalhistas na OBMEP, competição criada em 2005, ano do primeiro mandato do presidente Lula, para estimular a educação de matemática entre os alunos da rede pública. Na última edição, 59.478 estudantes foram medalhistas na disputa nacional, sendo 1092 piauienses. Já na etapa por estado, o Piauí teve 507 medalhistas.
Os auxílios para universitários só foram criados dois anos depois da OBMEP, que concedia bolsas apenas para estudantes de educação básica que conseguiam medalha (ouro, prata ou bronze). Na época, os medalhistas recebiam R$ 1.200, em parcelas de 12 meses, no ano seguinte à olimpíada.
Mudança de vida
Vitaliano conseguiu o benefício no ensino médio mas, quando iniciou o curso de matemática da UFPI, ainda não havia sido criado o benefício para os ex-alunos medalhistas na graduação. Em 2008, o então Governo Lula concedeu bolsas permanentes de R$ 400 para esses universitários premiados.
“Essa bolsa foi tão importante para mim que conseguia juntar um dinheiro e enviar a minha família, que era muito pobre”, lembra o matemático. “Durante a graduação, a chave virou. Percebi que podia ir mais longe e mudar de vida”, completa o matemático.
Assim que se formou, fez mestrado, foi aprovado no concurso para ser professor substituto da UFPI. “Depois, consegui aprovação para professor efetivo. Foi fantástico para mim. Pela primeira vez na vida eu tinha um salário permanente. Isso me permitiu comprar um carro, algo que no passado, quando estudante em Cocal, nem sonhava”, conta o docente.
Além disso, Vitaliano foi aprovado para cursar doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Por conta do título, seu salário aumentou 30% quando retornou à UFPI, em 2019. Hoje, com 40 anos, casado e pai de um filho, Vitaliano tem uma realidade socioeconômica bem diferente da que vivia quando era estudante em Cocal. Recebe, como professor da UFPI, mais de sete vezes a renda média per capita do piauiense, que foi de R$ 1.342 em 2023, segundo o instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Vitaliano sabe a diferença que faz a bolsa para os estudantes mais carentes. “Mesmo que o aluno goste de estudar, a necessidade financeira impede que ele consiga se concentrar e se manter. Por isso a bolsa é fundamental”, destaca o professor doutor Vitaliano Amaral.
G20 e Aliança Global contra a Fome e a Pobreza
Ações que transformam vidas, como a OBMEP, e iniciativas de combate à miséria e à insegurança alimentar são debatidas no âmbito do G20 e da criação de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. A proposta busca angariar recursos e conhecimentos para a implementação de políticas públicas comprovadamente eficazes nesses objetivos.
Entre 22 e 24 de maio, em Teresina (PI), um importante passo será dado para a consolidação da Aliança. A segunda reunião presencial da Força-Tarefa, com a presença de 52 delegações internacionais, buscará consolidar os termos finais da Aliança. A expectativa é que ela seja lançada no fim do ano, durante a Cúpula do G20, no Rio de Janeiro.
Fonte: MDS