Os influenciadores digitais alvos da Operação Jogo Sujo II recebiam até R$ 30 mil por semana para divulgar jogos de azar ilegais. A informação foi confirmada ao Portalodia.com pelo coordenador da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), delegado Humberto Mácola. Em entrevista exclusiva, ele explicou sobre as denúncias recebidas que levaram à deflagração da operação.
A Operação Jogo Sujo II resultou na prisão de sete influenciadores digitais de Teresina. Um ainda continua foragido, mas deve se entregar em breve à polícia, segundo seu advogado. As investigações da polícia apontaram que estes influenciadores eram procurados por agenciadores fazendo ofertas de divulgação de jogos de azar ilegais em plataformas não autorizadas pelo governo brasileiro. As ofertas variavam conforme a quantidade de seguidores que estes influenciadores tinham no Instagram e o engajamento que eles geravam.
Reprodução/Redes Sociais – Influenciadores presos na Operação Jogo Sujo II
Quanto maior o engajamento e os seguidores, maior o valor que eles recebiam. “Isso ainda está sendo apurado, mas devemos dizer que a Polícia Civil não trabalha com achismos, presunções ou suposições. De acordo com a investigação, estes valores variavam de R$ 10 mil, R$ 20 mil a R$ 30 mil de acordo com o poder de engajamento do influenciador bem como seu número de seguidores. Esses valores eram recebidos por semana, mas ainda estamos apurando definitivamente esta conta”, explicou o delegado Humberto Mácola.
No caso de um influenciador que recebia até R$ 30 mil por semana para divulgar “jogos do tigrinho”, o ganho mensal chegaria a R$ 120 mil. Os valores, segundo a polícia, se mostram bastante vultuosos e justificariam o estilo de vida que os influencers ostentavam nas redes sociais. Com eles, foram apreendidos 22 carros, sendo a maioria de luxo, joias, diversos dispositivos eletrônicos e uma quantia de R$ 500 mil em espécie.
Os bens foram todos bloqueados pela justiça para que seja feito um levantamento do que foi adquirido de maneira legal e o que tem origem ilícita. O patrimônio adquirido com dinheiro oriundo da divulgação dos jogos poderá ser revertido em favor das vítimas dos golpes aplicados pelas plataformas. A Delegacia de Crimes de Informática ainda não tem um valor exato do prejuízo relatado pelas vítimas, mas lembra que há casos em que a dívida do apostador se torna alta que ele se vê obrigado a vender bens como casas e veículos para pagá-las.
Jailson Soares / O DIA – Patrimônio dos influenciadores obtido de forma ilegal por divulgarem jogos de azar pode ser revertido para vítimas
“Vítimas de golpes procuraram influenciadores e receberam a porta fechada”, diz delegado
Injustiça. É assim que o coordenador da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática, delegado Humberto Mácola, se refere a todo o episódio envolvendo influenciadores digitas em Teresina e as vítimas dos golpes aplicados pelas plataformas que eles divulgavam. Os oito nomes alvos da Operação Jogo Sujo II responderão por indução do consumidor ao erro. Alguns deles chegaram a ser procurados pelas vítimas quando elas perceberam que haviam sido enganadas, mas, segundo o delegado, receberam “a porta fechada” e ficaram sem respostas.
“Temos vítimas que nos procuraram porque fizeram uma transferência errônea para estas plataformas. Outras que apostaram, ganharam, mas quando foram sacar, a plataforma deu um bug e o dinheiro não podia ser resgatado. Todas elas tinham o mesmo dilema em comum: não havia a quem reclamar. Não havia sequer um SAC para contatarem. Algumas procuraram os influenciadores e receberam uma porta fechada deles, dizendo ‘não tenho nada com isso’. Se torna muito injusto e o combate do jogo ilegal é exatamente esse”, diz o delegado.
Assis Fernandes/O Dia – Delegado Humberto Mácola, coordenador da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática
Ele acrescenta que essas plataformas online de apostas que não são regularizadas no Brasil não possuem sequer um CNPJ nem representante legal no país. Há ainda a completa ausência de canais de comunicação que permitam que os usuários tenham algum tipo de resposta em caso de problemas com o uso do sistema. O algoritmo desses mecanismos de apostas, diz Mácola, é programado para fazer as pessoas perderem e é que entra a figura dos influenciadores: eles ostentam nas redes um estilo de vida que não condiz com sua realidade e atribuem isso às apostas online.
Quando uma empresa é regular, tem o seu cadastro e inscrição regularizados pelo Governo Federal e pelo Ministério da Economia, ela é obrigada a dar um feedback e explicar o que está acontecendo diante de qualquer problema que a envolva. Essas empresas ilegais, que não são regularizadas nem auditadas ou fiscalizadas, não têm esse compromisso.
O delegado Humberto Mácola faz um desabafo: “É muito injusto e antijurídico uma pessoa buscar o serviço dessa empresa que está sendo divulgado por um influenciador com um potencial de alcance muito grande e depois ela questionar a respeito de qualquer problema e receber a resposta que ‘não tenho nada a ver, não sei o que aconteceu, procura tal pessoa, só estou divulgando’. Isso não pode acontecer”.
Letícia Ellen, Milena Pâmela, Pedro Lopes (Lokinho), Diogo Macedo (Diogo Xenon), Yrla Lima, Douglas Guimarães e Brenda Raquel são os influenciadores teresinenses que foram presos na Operação Jogo Sujo II. Antônio Robson Pontes, o Robin da Carne, estava negociando por meio de seu advogado sua apresentação à polícia. Além deles, também foram alvos da ação o cabo Jairo e o sargento Mota, ambos da Polícia Militar do Piauí, por suposto envolvimento com a divulgação de jogo de azar.
Os envolvidos devem responder pelos crimes de estelionato, lavagem de dinheiro, indução do consumidor ao erro e divulgação de jogos de azar ilegais.
Fonte: Portal O Dia